quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fabulosa tempestade

Hoje pela manhã enquanto estava deitada ao chão, fitava o céu. Não estava lindo, não produzia poesia, não era de chamar atenção, mas eu parei para olhar a pequena faixa que ainda aparecia em minha janela. Sinceramente, nunca o vi tão insípido, mesmo assim ali estava ele. A Bíblia diz que o universo inteiro rende louvores a Deus, sem exceção. Então, aquele “céuzinho” estava dando seu melhor em louvor ao Criador? Sério?! Ele não poderia fazer nada melhor? Eu lembro que ele já produziu efeitos mais extasiantes, mas hoje ele realmente não estava nos seus melhores dias, poderia mesmo se envergonhar de dar louvores, mas aposto que não passou a missão para ninguém, como CÉU, ele não abriu mão de oferecer glórias ao seu Criador. Talvez, ele estivesse passando por momentos difíceis, quem sabe uma tempestade viesse ai, alguém andou queimando algo tentando apagar o dia dele, alguma coisa particular o afligiu, ou os meus olhos talvez não estivessem tão inspirados hoje. Enfim, você já viu o céu deixar de cumprir sua missão: declarar a glória de Deus? Por acaso ele já deixou de aparecer ai onde você mora, apesar do bom ou mau humor do dia? Nunca! Hoje, eu não estou nos meus melhores dias, e o céu acho que acompanhou meu humor, eu estava até buscando inspiração nele para meu dia ficar melhor, não adiantou muito, as horas passaram devagar me fazendo lembrar que eu “esquecia” algo, mas o que? Eu passei o dia sem ânimo, aflita, procurando meios de preencher essa parte “esquecida” na minha agenda. Pensando no céu, agora que já é madrugada do novo dia, eu lembrei: Eu precisava adorar ao Criador, ainda que meu dia estivesse nublado, meio sem graça eu precisava realmente render glórias e graças Aquele a quem devo honrar todos os dias e declarar seu poder sobre todo universo. Minha inspiração não pode ser um reflexo da chuva, ou do sol, das pessoas que me cercam, mas do amor de Deus. Você sabe como brilhar na tempestade? Eu também ainda não sei como fazer isso mas vou pedir a ajuda do céu que contrata raios incríveis para demonstrar a glória de Deus e ainda que provoque, as vezes, certo espanto naquela forma de declaração da magnitude do amor de Deus, tenho certeza que nenhuma tempestade atrapalha o universo de adorar ao seu amado Criador, na verdade aquela é mais uma forma do céu declarar a grandeza de Deus. Muito criativo! Então, na sua tempestade adore a Deus, isso produzirá clarões que atraírão outros para perceber a glória de Deus. A melhor parte é que depois do temporal vem a bonança e já será hora de adorar novamente. Não perca tempo!
Se tiver caixinhas de som indico uma música que vale muito a pena curtir - Tempestade interpretada por Leonardo Gonçalves e Família Soul.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Jardim

Eu estava colhendo tempo atrás os cacos que fiz/fizeram do meu coração. Admito que sou uma jovem normal e também tenho meus desejos por um relacionamento que me faça ficar apaixonada, boba, aérea, bonita, motivada – essas coisas que uma paixão provoca e que nos últimos tempo tenho me dado ao prazer de sentir poucas vezes. Quando seu dia está muito cheio, sua agenda lotada e seus amigos te incluem em toda e qualquer programação você nem ao menos sente falta de alguém, ou ao menos disfarça muito bem. Quero dizer que no último mês sofri demais por uma relação que nunca cheguei a ter, que em alguma tentativa de conquistá-la eu falhei, e por conseqüência me lembrei de quase todos os ‘ex’ e cai em prantos! Eu? Em prantos? Isso nunca aconteceu! Sério! Há uma nova etapa começando aqui e eu nem havia me dado conta de que esse lado romântico, carente, sensível tinha chegado com o final do inverno e início da primavera! Poesia bonita, mas que de fato não estava a fim de me ver desenrolando ela, isso daria um poema chinfrim, como diria a música do Lulu Santos “que filme mais antigo, que novelinha mais sem fim, que texto ruim”. Enquanto tentava sair do meu desespero tive a imensa alegria de acompanhar amigos em um acampamento de final de semana e ouvi falar de um jardim, um local secreto e escondido em nós mesmose que deveria ser cuidado porque ali era nossa vida, nossa aparência, nosso coração. O meu jardim estava em cinzas, não havia rosas, nem eu mesma tinha coragem de ir até lá dar uma olhada nele, apenas o Jardineiro Fiel estava lá na intenção de reconstruir meu jardim. Nesse acampamento eu falei com o meu Jardineiro Fiel disposta a cuidar daquilo que há de mais valioso em mim, meu coração. Confirmando toda essa situação encontrei em um texto belíssimo do Mario Quintana que diz

Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você. O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

Perfeito, não?! Ele teve a ajuda do Jardineiro Fiel para produzir esse poema, com certeza. [rs...] Como eu queria acalentar minha alma, reconstruir meu jardim, aos poucos recebi boas sementes de flores raríssimas, porém havia uma flor que nunca saiu do meu jardim, a única que não havia morrido por completo, apesar de todos os temporais que enfrentou e dos pouquíssimos cuidados da proprietária. Essa flor é única e o Jardineiro Fiel continuou preservando-a. Fitei meus olhos nela e comecei a mantê-la sob um cuidado especial, ali estavam contidos todos os meus sonhos, planos, momentos de real felicidade, memórias de esperança e a cada dia que eu cuido dela encontro coisas valiosas capazes de me fazer abrir um sorriso sem igual, então corro para mostrá-la ao meu Jardineiro Fiel como linda está se tornando minha flor. Agora, eu quero mostrar meu jardim a todos, mostrar como ele está ficando cada dia mais lindo, mas Ele disse para que eu não o abrisse ainda, haverá o tempo certo para fazê-lo. Anos atrás eu li os últimos livros de uma série que acompanho desde a adolescência, na penúltima edição a autora Robin Jones Gunn traz um poema simples, até bobo mas que lembrei enquanto pensava em abrir meu jardim, e ele diz o seguinte:

Dentro do meu coração cresce solto
um jardim de violetas e perfumadas rosas.
Alegres narcisos do prado se alinham ao longo do estreito caminho,
silentes a ouvir meus passos.
Doces tulipas acenam em repouso;
eu me ajoelho e busco em Deus o bem maior.
Pois em volta do meu jardim há uma cerca firme
que guarda meu coração para eu decidir
quem pode entrar, e quem deve esperar, do outro lado da cerca...
Prendo a chave no pescoço
e indago se a hora é já.
Se hoje o portão se abrisse,
você entraria ou embora iria?





Por hora ainda não perguntei a alguém se gostaria de ter minhas chaves, mas quando isso acontecer espero ter meu jardim perfeito e cheio de flores para assim olhar para meu Jardineiro Fiel a fim de entender que é tempo de entregar as chaves.
Cuide bem do seu jardim!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Novo esconderijo

Estive pensando sobre o modo como a minha vida mudou sobremaneira daquela que eu vivia enquanto morava em Recife. Sinto saudade da minha inocência e doce convicção a respeito do ‘certo’ e ‘errado’. Provérbios diz que o homem sensato vê o perigo/mal e se esconde (Pv 27:12) . Eu nunca precisei, de fato, ver o mal, até porque eu já me escondia dele só por prevenção, no entanto, aos poucos meu acolhido e aconchegante esconderijo foi retirado de mim. A sensação agora é que isso foi tão rápido que não fui capaz de diferenciar onde, quando e contra quem eu deveria me esconder. Onde estava o mal, se no meu treinamento eu ficava apenas na base e quase nunca estava na zona de combate? Eu estava totalmente desarmada e gritar “Pai!” ou “Mãe!” não seria a solução para os meus problemas, confesso também que apesar de crer na presença de um Deus grandioso, constantemente tenho O enxergado apenas me dizendo para reconhecer, treinar meu instinto, meu espírito está pronto afinal. Mas, eu devo lembrar que a carne é fraca? Eu desejo realmente voltar ao meu seguro esconderijo, não me sinto tão pronta ou forte como eu sempre achei que estivesse. Realmente não estou! Ainda bem que Deus sabe disso e não perde a cabeça gritando para mim como eu sou um "fracote" ou dando tapas manda ignorantemente para "pedir para sair". Ele não quer quer eu saia, ou que eu esconda como sou tão fraco, e sua presença é totalmente necessária e fundamental para mim, para você também! As pessoas, as circunstâncias nos apontam os nossos defeitos, nossa pequenez. Deus aponta para o amor de Cristo e a Sua fidelidade a nós, Deus nos aponta o melhor caminho, Deus não desiste de nós em nenhum momento. Sair do esconderijo é apenas uma etapa para amadurecer, Ele não exige que sejamos absolutamente perfeitos, aquilo é um treinamento, Ele é comandante, continua no controle ainda que eu fracasse. Quando fracassamos, Ele cura, restaura, conforta, fortaleça, nos ama até que estejamos novamente fortes e felizes. O Seu amor é maior que qualquer deslize meu/seu, acertar ou errar não estão nos cálculos de Deus para saber o nível de amor e intimidade que Ele quer ter comigo [contigo]. Mesmo se eu [você] não O buscar Ele procurará me [te] fazer feliz, me [te] amará ainda que o despreze, estará comigo [contigo] ainda que desista.


Deixo para vocês uma música belíssima cantada por Mariana Valadão, aos que não curtem esse tipo de canção ou tem críticas a cantora, eu apenas desejo que reflitam na música! Nada muito pomposo, a letra é simples e objetiva! Descubram algo incrível sobre Deus!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Espiritualidade

No comecinho de 1990, fui convidado para participar da organização da Aliança Evangélica Brasileira (AEVB). Reunimo-nos em Teresópolis para esboçar os primeiros momentos, mas não lembro nada do planejamento. Ficaram apenas as devocionais lideradas pelo Osmar Ludovico, que me marcaram de forma indelével. O Osmar falou sobre oração contemplativa, "Lectio Divina", meditação. Porém eu vinha de uma tradição pentecostal e nada sabia sobre esses e outros exercícios espirituais. No segundo dia, houve um quebrantamento e eu me derreti em lágrimas. O Espírito de Deus nos moveu de uma forma única.

A prática de orar em silêncio, de aquietar a alma para meditar na Palavra e de escrever ressonâncias depois que alguém compartilha percepções espirituais, me deixou boquiaberto. Eu acreditava em preces barulhentas. Achava que Deus gostava de decibéis exagerados. Aliás, preciso confessar, eu mesmo já insuflei auditórios com a clara intenção de produzir frenesi para "mostrar" categoricamente que Deus "operava em nosso meio". Mas o Osmar Ludovico me conduzia por um novo e fascinante portal. Ao seu lado, eu subia escadas que tocavam o céu. Osmar tem uma voz suave, que, ao pronunciar o nome de Deus, ainda me comove. Ali começou um novo ciclo em minha devocional.

Passei a desejar uma espiritualidade de afetos. Abandonei o esforço de fazer de minhas orações uma técnica de colocar Deus em movimento. Destruí o altar que eu erguera para acionar o divino. Reaprendi que orar é inspirar ausências. Sem muitos barulhos, colocar a alma numa quietude parecida com a que o sumo sacerdote experimentava ao entrar no Santo dos Santos. Noto que os cultos, as missas, se tornaram agitados. Pergunto-me se o ritmo alucinante das músicas e das danças não são fugas. Na agitação, evita-se o confronto com a interioridade e, consequentemente, com Deus. Agora, só agora, começo a intuir o significado de orar no quarto fechado, em secreto.

Uma oração que não inclua o mundo inteiro apequena Deus e mostra o grau de individualismo de quem ora. Não consigo mais entender Deus como um deus tribal que faz chover e não deixa que gafanhotos destruam plantações. O mundo geme e entendo que as preces precisam ser situadas em relação a todos, inclusive africanos exilados, haitianos sem teto, europeus desiludidos com o materialismo e brasileiros inundados em periferias urbanas. Deus não dispensa suas bênçãos prioritariamente sobre os quem têm olhos azuis. Ele não começa seus castigos pelos mais miseráveis; não abandona milhões à míngua para vitalizar ajuntamentos que enriquecem evangelistas ávidos por fama e riqueza.

Desde aquela iniciação com o Osmar Ludovico, reaprendi a ler a Bíblia sem o exclusivismo das ferramentas frias da exegese. Por anos fui um gramático, pavimentei a estrada da minha fé com argumentações, mas comecei a ler as Escrituras com o coração. As novas lentes de leitura eram o amor e a paternidade de Deus. Desisti da pretensão de chegar à verdade dissecando textos. Eu queria perceber o recado de Deus nas entrelinhas, sem as vendas espirituais que me impedem de me sentir abraçado por ele. Sei da importância de não desvirtuar o sentido do texto com interpretações fantasiosas. Mas sei também que não é com análises sintáticas que a linda poesia do Espírito chegará ao meu coração. Se a letra mata e o Espírito vivifica, quero perceber o imperceptível; quero o que os olhos naturais não captam.

Desejo vivenciar a minha espiritualidade em atos devocionais. Pretendo transformar-me em um adorador que faz do “seguimento” de Jesus a melhor expressão de sua piedade. Liturgias centradas em emocionalismos desmerecem a tradição profética dos dois Testamentos. O melhor culto é defender a justiça. Deus não gosta de ajuntamentos com liturgias autocentradas, que só buscam canalizar o seu favor. O verdadeiro culto disponibiliza pessoas para cuidar de órfãos e de viúvas -- esta é a verdadeira religião, segundo Tiago. Qualquer verticalização do louvor só tem sentido se promover a verticalização do serviço. Espiritualidade é reconhecer Deus no rosto do pobre, do nu, do faminto e do desterrado; tudo o mais é individualismo travestido de piedade.

Anseio por reuniões que celebrem a graça, sem paranoias espirituais, sem alguém tentando infundir culpa para descansar no inescrutável amor de Deus. Quero participar de comunidades leves, sem as afetações próprias do glamour do mundo, onde os sorrisos sejam gratos e os abraços, sinceros. O caminhar de Jesus não combina com lugares espetaculosos. Viver os valores do seu reino prescinde de holofotes.

Muito obrigado, Osmar. Naquela tarde edifiquei um memorial; altar que me lembra o desafio de vivenciar o vasto amor do Pai. Soli Deo Gloria.

Pastor Ricardo Gondim